
Perfecionismo: É dos Pais ou é dos Filhos?
Ontem fui buscar os meus filhos à escola, no regresso a casa a minha filha partilhava comigo a frustração e tristeza que sentia perante os resultados das suas provas. Resume-se a ter baixado uma nota, face ao período passado e no geral os seus resultados face ao ano anterior. Surgiu-me uma palavra: Perfecionismo?
Sinceramente, para mim não é significativo, para mim os resultados são bons, mas para ela não são os resultados que ela quer ter. Independentemente das razões que conduziram a esse resultado, houve algo que eu constatei ontem com a nossa conversa:
A minha filha, no que diz respeito aos seus resultados da escola, adota uma atitude PERFECIONISTA.
A Rigidez das Notas
Há uma rigidez no que diz respeito àquilo que pode ser considerado um bom resultado na escola (eu não identifiquei esta “rigidez” da sua parte. em mais nenhuma dimensão da sua vida, o que não quer dizer que não exista…). A verdade é que no que toca aos estudos, todas as notas que se situem abaixo da fasquia que estabeleceu, são consideradas um mau resultado (“perfecionismo”) :
– “Quando me dizem que um “Bom” é bom, para mim, um “Bom” é mau!”
A minha filha (como todas as crianças) não nasceu “perfecionista”, ela, nesta matéria em específico, tornou-se perfecionista. Como? Tecnicamente, por meio da forma como é acompanhada nas suas tarefas e atividades.
Onde Coloca a ATENÇÃO?
Onde é que ela tem a atenção posta? No resultado. Possivelmente ela SENTE que muitos ou “todos” à sua volta têm a atenção posta no resultado. E não me estando a desculpar, de maneira nenhuma, há uma tendência com a sua idade, a começar a valorizar mais aquilo que os colegas acham e consideram importante, do que aquilo que os pais acham e consideram importante. Nem, eu, nem o meu marido lhe colocamos a tónica no “quão altas” deverão ser as suas notas. Procuramos colocar a tónica quer na responsabilidade, quer no processo de estudo, quer na evolução desse mesmo processo de estudo.
Não obstante ela sabe que eu no Ensino Superior fui a melhor aluna do curso e isso pode obviamente estar agora a influenciar os seus padrões e o perfecionismo associado. Por isso partilhei com ela que esse meu resultado não adveio de eu querer ser melhor do que ninguém, mas sim de querer saber mais – o que de resto se mantém até hoje. Num processo de mim, para mim.
Partilhei com ela que nem sempre tive os resultados que queria ao longo da jornada e que fui afinando o processo. Gradualmente fui melhorando os meus resultados em função disso. Disse-lhe que não tinha expectativas, tinha objetivos, que às vezes falhava. Como consequência disso essencialmente frustrava, mas persisti em identificar o que precisava de afinar para saber mais, porque na verdade me queria tornar numa boa profissional e acreditava que para isso acontecer precisava de aprender mais e manter-me atualizada. Passei a gostar de saber mais, a gostar de afinar cada vez melhor; e uma coisa alimentava a outra.
As pessoas não são todas iguais.
O Perfecionismo e a Escola
A minha filha chegou a partilhar comigo que:
– Quase nem quero partilhar com os outros as minhas notas para que (alguns deles) não gozem comigo…
(Como assim?! Pensei eu para com os meus botões. Quem me dera na idade dela ter aqueles resultados e o seu compromisso)
E continuou…
– A “C” disse-me que queria saber as notas do “G” para ir gozar com ele. Por mais que às vezes ele possa ser um “chato”, “mauzinho” e mesmo “mau colega” ninguém merece que se goze com os seus resultados…”
Onde coloquei o foco perante o sue PERFECIONISMO?
Coloquei a tónica e vou continuar a colocar a tónica no PROCESSO de ela descobrir os elementos concretos em que deve colocar a ATENÇÃO para poder melhorar esse resultado que pretende melhorar, sendo que acrescentei que não há nada que possa fazer para que eu e o pai a amemos, mais ou menos.
Eles têm que saber que são AMADOS, independentemente das suas notas. É fundamental que saibam que eles NÃO SÃO as notas que tiram, o que dizem deles, o que eles pensam sobre si, ou o que os outros pensam deles…
– Eu sou tudo isso e mais, não é mamã? Perguntou.
– É, meu amor. Respondi.
Eu acredito que uma relação se faz de verdade e que como refere Mário Carneiro a família é um espaço de criação que se organiza do desassossego (relacional) porque é o desassossego que gera a tranquilidade.