Paula Pinto Almeida / Bem-estar  / Ninguém é Perfeito – Nem tu, nem os teus filhos
Ninguém é Perfeito

Ninguém é Perfeito – Nem tu, nem os teus filhos

Eu olho para as coisas como elas são. Ninguém é perfeito, eu também não.

Quando tinha 8 anos recordo-me do meu pai me perguntar o que é que eu achava sobre o aborto. Explicou-me com muita clareza – ginecologista e obstetra de profissão – o que era um embrião, um feto e um bebé nascido, as suas “diferenças” e enquadramentos perante a lei e perguntou-me o que é que eu achava em relação ao aborto e o que representava para mim um embrião. E eu recordo-me desse dia, de pé, em frente à televisão da cozinha de lhe responder que um embrião para mim era vida porque se o deixassem, um dia seria uma pessoa como eu e como ele. Isso marcou-me, porque me recordo muito bem deste episódio. Porque seria que o meu pai, especialista daquela área me fazia tal pergunta…? Para mim a resposta era tão simples e óbvia… tão pura, tão espontânea! (não está aqui em causa o que eu penso em relação ao aborto! Pode até ter mudado… ninguém saberá…)

Os Meus Filhos são Seres Humanos

Eu olho para os meus filhos como seres humanos que pertencem à natureza, mas que me foram postos a cargo até poderem andar por eles mesmos. As crianças para mim deveriam ser olhadas como se olha para outro ser humano, têm os seus direitos, e devem ser tratados com a gentileza e a atenção que se tem em relação a um adulto. O respeito que tenho por uma criança é o mesmo que tenho por um adulto, com uma única diferença: atendo ao facto das crianças estarem em desenvolvimento… Foi isso que senti na conversa com o meu Pai 🙂

Por outro lado, tal como acontece com os adultos na relação que se estabelece entre crianças e os adultos há regras e as regras devem ser cumpridas. Na minha relação entre adultos há regras, tal como na minha relação com os meus filhos e com as crianças no geral. E se essas regras forem corrompidas – de parte a parte – os intervenientes devem repor o equilíbrio quebrado. Ou por outra, devemos repor – enquanto família – o equilíbrio quebrado (os materiais que te deixo hoje, abaixo, referem-se a estas regras).

Nota que nem sempre é a criança a que quebra o equilíbrio familiar. Quantas vezes não parte de ti essa “desordem”? Porque vens nervoso/a do trabalho e tens que responder a um email, mas os miúdos teimam em não se calar e lá te sai um – “CALEM-SE TODOS JÁ!”, ou porque adoeceram e estás sequestrado da tua amígdala (queres saber o que é isto da amígdala?) com o perigo eminente que isso nesse momento representa para ti e sai-te um – “Pára agora um bocadinho filho…!”, ou porque tiveste um arrufo de casal e a miúda mete-se na conversa (porque já se sente crescida) e tu a mandas pró quarto… Pois é, ninguém é perfeito…

A Perfeição não Existe

Estou longe de ser perfeita, mesmo porque a perfeição não existe, mas sou hoje muito mais completa do que alguma vez fui, porquê?

Para quê aceitar que não sou perfeita? Ninguém é perfeito. SOU tudo. Em mim cabe a pessoa meiga, generosa e colaborativa com a qual tanto me identifico, mas também cabe a que (agora menos vezes) grita com os filhos. É assim mesmo. A minha vida mudou quando passei a aceitar que o erro faz parte da jornada, e que está tudo bem. Treinar, treinar, treinar sem nunca desistir em busca da mudança que eu gostava de ver à minha volta.

Porque não só amo muito os meus filhos como os respeito. Amo-os como eles são, ponto final. Não como os outros gostariam que eles fossem, não como a sociedade gostaria que eles fossem ou desenhou que eles deveriam ser, não como mesmo eu às vezes “preferia” (ou me dava mais jeito) que eles fossem… Aceito-os como eles são, com a mesma naturalidade que para mim um embrião era vida, ou que as pessoas são pessoas e os animais são animais.

Três Crianças, Duas Realidades

A minha filha falava corretamente com 2 anos e meio e os meus filhos gémeos de três anos e meio andam no “vai não vai” com a terapia da fala… E eu aceito-os assim. Não preciso de um motivo para lhes dar um beijo, nem um abraço. Ou até preciso, dou-lhes um afago simplesmente porque existem. Porque os amo. E eles sabem e sentem isso, e sentem-se felizes, eu sinto-o. Sentem-se respeitados, amados, aceites.

Aceito que a minha filha seja uma das melhores alunas da turma, da mesma forma que aceito que os gémeos não aguentam “livremente” sentados mais de 10 minutos. Amo-os da mesma forma. Isso não significa que não faça nada para trabalhar certas áreas com todos eles. Mas, aceito-os porque sei que ninguém é perfeito.

O que mudaria se eu dissesse aos pequenos o seguinte: – “Porque vocês são sempre a mesma coisa e não conseguem estar sentados, e não tomam atenção a nada e a vossa irmã era muito diferente e por isso é que é muito boa aluna… etc, etc, etc…” Eu digo-te o que mudaria: desenvolveriam aversão ao erro, aceitariam essas afirmações como verdades (absolutas?), baixaria a autoestima deles e a sua autoconfiança, possivelmente duvidariam das suas capacidades, criariam crenças limitadoras em relação a si mesmos… aumentaria a ansiedade deles sempre que fosse para estarem sentados, e poderia aqui continuar a dizer-te o impacto que isso poderia ter. Quando os aceito assim tomo as minhas decisões serenamente, o meu enfado não existe só porque eles se comportam assim, poupo muita hora de ansiedade e de preocupação.

Então, como Deveriam Ser as Coisas?

Deixei de colocar (tantas) expectativas em como deveriam ser as coisas. De como deveria ser a relação entre mim e os meus irmãos, entre mim e os meus pais, porque simplesmente vai ser como tiver que ser. E se tu tens uma expectativa de como deveria ser, e continuamente não a atinges sentes que não consegues honrar esse valor da família. Não podes sentir-te livre nesse tipo de relações porque sempre estarás preso às expectativas. Por isso a primeira coisa é deixar as expectativas de lado e pensar que para mim é igual o que possam pensar de mim e da minha família e sobre aquilo que para eles possa ser o enquadramento de uma boa filha, uma boa mãe, uma boa irmã, uma boa nora. Eu faço o que fizer sentido para mim. Ninguém é perfeito.

Quando fazes isso tomas consciência de que já não há a OBRIGAÇÃO. Não é porque é mãe, pai, filho, primo ou outro, que tens a obrigação de passar tempo com ele ou ela. É muito mais saudável e libertador pensar que vou compartilhar o tempo que quero e não o tempo que acredito que devo compartilhar. Vou fazer isso com as pessoas com quem realmente quero fazê-lo. Eu passo tempo com os meus filhos e o muito ou pouco tempo que passo com eles passo com gosto. Passo porque eu quero passar. Porque eu decidi que quero passar.

A Minha Relação com os Meus Filhos está em Mudança

Como te disse antes, acredito que os meus filhos não são meus, são filhos da vida e eles um dia terão que encontrar o seu próprio caminho, o seu próprio espaço para se poderem desenvolver, aprender, enganar-se (como toda a gente) e a questão é que quero-lhes dar esse espaço, deixando-os SER. Tu só vais deixar o teu filho SER quando te permitires a ti mesmo SER.

Uma psicóloga há 3 anos atrás disse-me: – “Sabes? A “sorte” da tua filha foi terem nascido os irmãos.” E hoje eu percebo o porquê do comentário. Hoje a minha filha é muito mais ela mesma, com tudo o que isso implica. A atenção deixou de estar só nela, tem muito mais tempo para se aborrecer e para ser criativa, tem mais tempo para brincar sozinha e com os irmãos, para reclamar para si o que acha ser seu, de experimentar coisas novas…

Hoje mostro-me mais vulnerável perante as crianças, do que antes, quero que saibam que ninguém é perfeito. Converso e tento dialogar mostrando-lhes o que preciso deles e porquê (às vezes resulta melhor, outras vezes menos bem – faz parte). Mostro-lhes e tento que sintam que cada um tem o seu espaço na família. Eu tenho a capacidade de cobrir as minhas necessidades, não delego essa tarefa nos meus filhos.

O Erro faz (a sua) Parte

Os filhos aparecerem muitas vezes com uma enorme intolerância ao erro porque os pais escondem os seus erros – admito que me enganei, peço desculpa – para que saibam que ninguém é perfeito! Isso dá-me autoridade e não preciso de recorrer ao autoritarismo para que me prestem atenção em determinados aspetos. Se me mostro vulnerável sou coerente comigo mesma e refaço o meu caminho quando me apercebo que não fez sentido.

Entendo que não é coerente retirar as consequências dos seus comportamentos aos meus filhos porque sinto pena deles, ou porque “não aguento” que não vejam tv e me “chateiem” o tempo todo, mas se eu der conta que me excedi, ou me enganei não me importo de me mostrar vulnerável e comparto-o com eles e reconduzo a situação ajustando a consequência mais adequada. Entendo que isso é ser líder na minha família. Qual é a autoridade que se dá a uma pessoa que reconhece os seus próprios erros?

Renuncio a ter expectativas em relação aos meus filhos, permito-me ver a realidade daquele momento, tento compreender o sentido que tudo aquilo faz, mesmo que a mim não me pareça bem. Afinal de contas, ninguém é perfeito. E treino, treino, treino… sem nunca desistir em busca da mudança que eu gostava de ver à minha volta.

 

Encontra mais vezes a felicidade na tua família! ♥

#beyounique

-♥-

 

Descarrega aqui os materiais que preparei para trabalhares em ti e com os teus pequenos:

 

 

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