Não quero e não vou. Será (des)obediência?
Vamos lá falar de “obediência”!
Ontem, num final de dia de piscina, deveriam ser umas 19:00 tive um encontro com uma amiga que estava acompanhada da filha de 3 anos. Não via essa minha amiga há uns quantos anos. Mas, tinha falado com ela há uns meses por causa do “comportamento da filha”. Supostamente a menina (pelas palavras da mãe) era desobediente, exigente e “senhora do seu nariz”…
– Só faz aquilo que quer e nós temos que fazer o que ela quer. Dizia a mãe.
– Temos problemas em casa para ela comer, para vestir, para sair de casa… Mas, na escola come tudo e colabora. Continuou…
(Des)obediência
Às tantas essa minha amiga ontem disse-me:
– Paulinha, ajuda-me! Não quer ir à casa de banho… (em suposta desobediência)
A menina não queria ir à casa de banho. Mas, supostamente a sua fisiologia indicava que tinha muita vontade.
Lá fui eu… 🙂
Apresentei-me. Criei conexão, ajoelhando-me, elogiando o seu sorriso e olhando-a nos olhos; em jeito de segredo desafiei-a a surpreender a mãe indo à casa de banho.
Ela aceitou de imediato e em dois minutos estava na casa de banho sentada na sanita (forrada a papel higiénico). Mas, não fez nada…
– Oh! Não fizeste nada… O que se passou? Perguntei.
– Isto está tudo sujo disse a pequena. Tenho nojo.
Conclusão: Será (des)obediência
Não fez nada porque sente nojo. Nojo possivelmente porque como se trata de uma casa de banho de piscina com centenas de pessoas a passar lá por dia, dizem-lhe que está sujo… e ficam-se por aí.
[Em alternativa podemos dizer: Nestes sítios com muita gente “não nos encostamos às paredes”; “calçamos os chinelos para ir à casa de banho”; “forramos a sanita” ou “limpamos a sanita antes do chichi”; etc… damos as diretrizes porque dizer que está sujo só por si não dá segurança, nem ferramentas às crianças e pode dar azo a criar ilusões e mesmo fantasias…]
Depois disso peguei nela ao colo (porque estava sem chinelos) e ela deu-me a comer um pouco da sua bolacha. Eu fiz que a comi, mas não a comi. Ela parou por segundos a olhar para mim e atirou a bolacha para o chão – talvez por ter ficado frustrada por eu não a ter comido “de verdade”. E eu exclamei: – Ui, deixaste cair a bolacha…! (ignorei propositadamente o ter atirado a bolacha ao chão. Era a primeira vez que falava com ela e o objetivo era conectar e não orientar o seu comportamento)
E ela respondeu: – Eu não a deixei cair, atirei-a ao chão e tu vais apanhá-la!
– Eu?! Não (disse-lhe a sorrir). Tu é que a vais apanhar… foste tu que a atiraste… e peguei nela como se de um avião se tratasse (fiz o barulho de um avião e tudo) e ela apanhou-a e a voar até ao caixote deitou-a ao lixo.
A mãe
Escusado será dizer que a mãe se surpreendeu com tudo isto… mas, a verdade é que quando nós usamos a fantasia, a brincadeira e a conexão com as crianças tudo se torna mais simples e conseguimos perceber as razões de não colaborarem (da não obediência). Na verdade ela estava a colaborar (neste caso) não queria ir à casa de banho porque é suja… na verdade, foi o que lhe disseram, logo estava a colaborar…
Antes de me ir embora disse-lhe que estava orgulhosa dela ter ido à casa de banho e que esperava que fosse mais vezes com os cuidados necessários, porque tinha a certeza de que ela era capaz (mostrar que confiamos neles é muito importante!). Perguntei se lhe podia dar um abracinho e quem me abraçou (primeiro) foi ela.
Uma delícia de menina, que à partida precisa de ser mais estimulada a percecionar as regras. As regras como algo que precisa de ser feito, mas que não tem que ser chato nem duro. E por outro lado, a ser dotada de mais ferramentas para fazer face aos desafios do dia a dia.
Uma delícia de criança, como todas as crianças! ♥
As férias não são só mergulhos, gelados e almoços na piscina, também tem disto e ainda bem 😉