Paula Pinto Almeida / Amor  / Mano, cala-te! Para de chorar, por favor.
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Mano, cala-te! Para de chorar, por favor.

Quem nunca ouviu esta frase?: “Para de chorar!” A quem nunca o choro dos outros incomodou?

“O choro foi feito precisamente para incomodar” já não sei exatamente onde li esta frase, ou uma frase do género e não quero jurar em falso.

O choro permite que libertemos as emoções e tem sempre um significado para quem chora, mesmo que não percebamos o quê exatamente.

Já há muito que procuro não me intrometer nas questões deles. Enquanto interagem entre eles, aprendem, crescem, testam, evoluem, frustram, recuperam e voltam a tentar. Mas, há coisas cirúrgicas que agora não deixo passar porque posso-me esquecer (como já aconteceu) e perco a oportunidade de falar do assunto que é importante.

Quando chora porque…

Um dia destes estávamos a tomar o pequeno almoço e um dos meus filhos gémeos chorava. De onde a onde dava entoações, mais elevadas ao seu choro. Chorava porque não queria ter vestido “calças com cordões”. Como as outras calças desportivas tinham sido todas “consumidas” e ia ter atividade física nesse dia, expliquei-lhe que percebia que não gostasse e que nesse dia teria que as usar na mesma porque não havia outras lavadas.

Então ele, vestiu, chorou, amuou, voltou a chorar e já na cozinha, após alguns minutos de diversas elevações de choro, a minha filha de rompante diz:

– Mano, cala-te! Para de chorar, por favor.

E enquanto ele entoava ascendentemente o seu choro, eu pergunto: – Filha, cada um de nós pode chorar quando entende que deve chorar?

– Mas, mãe, ele não tem razões para chorar. Não tem uma razão importante para chorar. Está a chorar por umas calças…!

– O que é importante para ti, é-o da mesma forma para mim? Choramos pelos mesmos motivos?

– Sim, é verdade, não choramos. Então ele que chore, mas que pelo menos que não grite, mãe. Quero ouvir a televisão e não estou a conseguir. Consegues entender isso, mãe?

– Claro…

Chorar. É a nossa missão

E a conversa continuou… abriu-se espaço para a emoção baixar a intensidade e o choro o seu tom, enquanto ele ouvia as nossas conversas. Houve espaço para falarmos sobre a pergunta da miúda e possíveis soluções.

“A nossa missão como pais é ensiná-los a tomar boas decisões, mas para isso vão enganar-se muitas vezes” Maria Soto

Eu diria que não são só eles, nós também.

Não há uma razão “escrita” que justifique ou invalide o “poder” chorar, não há um período de tempo razoável para chorar… E pode-nos incomodar estando de fora, é verdade, o choro foi feito para isso – para incomodar! E acredito que se encararmos com responsabilidade que “a nossa liberdade acaba quando começa a do outro” as coisas compõem-se. Ou vão-se compondo…

Quando os levei à escola e o pequeno saia do carro depois de lhes ler a história da manhã ele disse-me: – Olha mamã, eu não gosto destas calças na mesma!…

Não foi um jogo de poder, não foi uma imposição, foi uma “necessidade” que impunha que ele levasse aquelas calças… e ele entendeu isso, e embora não gostasse aceitou. Foi fácil? Não. Deu trabalho? Sim. E se fosse pela via autoritária, daria trabalho? Sim. Seria fácil? Não.

Então escolhamos como queremos conduzir-nos enquanto pais.

Encontra mais vezes a felicidade na tua família! ♥

#beyounique

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