
Filhos: Cuidado que eles têm sonhos!
Este artigo fala do Poder, do Controlo e do Medo dos Pais VS o Medo, a Culpa e a Vergonha dos Filhos
Quem não se lembra deste tipo de conversas?
- Criança: – “Porquê?”
- Adulto: – “Porque sou teu pai! Fazes porque eu te estou a dizer que o faças.”
- Criança: – “Mãe, posso fazer o meu pequeno almoço?”
- Mãe: – “Não, porque perde-se muito tempo e eu faço mais depressa (e melhor. Se for ela/e a fazer deve ficar uma porcaria…).”
- Criança: – “Mãe, quero brincar naquele divertimento.”
- Adulto: – “Mas, não vais porque vais cair.”
Até aqui, tudo “bem” e “normal”…?
Imagina agora conversas deste tipo:
- Mulher: – “Porquê?”
- Marido: – “Porque sou teu marido! Fazes porque eu te estou a dizer que o faças.”
- Colaborador: – “Chefe, estava a pensar propor umas melhorias no desenvolvimento da equipa. O que acha?”
- Superior hierárquico: – “Não quero porque não está dentro das suas competências. (Que disparate… Vai agora perder tempo a fazer aquilo que não sabe…).”
- Jovem: – “Vou perguntar àquela miúda se quer sair comigo.”
- (o próprio) Jovem: – “Não vais nada porque ela não vai querer.”
Que semelhanças encontras entre estes diálogos?
A intenção é a de manter a “ordem” e a segurança
Os comportamentos que temos movidos pelo medo, pela necessidade de poder e de controlo, geram muitas vezes nos outros (principalmente, nos nossos filhos que nos amam incondicionalmente e que nos têm como referência): medo, culpa, julgamento, e vergonha… e limitam-nos. A intenção é a de os proteger, de controlar os seus comportamentos e de ter autoridade/poder, ou seja, resumidamente manter a “ordem” e a segurança.
Ora, vamos ver, uma a uma, as emoções que “andamos” a gerar nos nossos filhos como forma de educá-los:
- O Medo: O medo é uma emoção que está diretamente relacionada com o Instinto de Sobrevivência. A sua função é a de nos alertar para um perigo real ou imaginário, no presente ou no futuro. O medo diante dos erros pode fazer com que os filhos parem de procurar realizar os seus sonhos por medo do erro.
- A Culpa: A culpa é uma emoção social que surge de um suposto erro cometido por nós e dá-nos a sensação de divisão interna, como se tivéssemos dentro de nós um juiz e uma vítima. E este suposto erro implica um castigo/dívida para com alguém ou algo. E acompanha-nos… e muitas vezes, a sensação de dívida arrasta-se assumindo o próprio a totalidade da responsabilidade da situação (quando esta responsabilidade entre adultos deve ser partilhada).
- A Vergonha: A vergonha é uma emoção social que surge quando acreditamos que há algo de “mau ou de desadequado” em nós e que se os outros se aperceberem nos irão rejeitar . E vamos sentir-nos divididos porque, por um lado, queremos ser como somos e por outro lado, vamos querer ser diferentes daquilo que somos. E vamos criando uma imagem negativa de nós mesmos – de como somos e de como acreditamos que isso nos define.
Que influência tem nos nossos filhos?
As nossas palavras e as nossas atitudes vão influenciar (sim, ou sim) a vida dos nossos filhos no presente e no futuro.
E, sim… nós enquanto pais não fazemos tudo bem, e nem sempre agimos da melhor forma, e à medida que tomamos consciência das nossas dificuldades podemos mudar. Sim. Podemos mudar e aprender a “errar” menos.
Em vez de obediência cega por que, não procurar a colaboração? Procurar que a criança pense, se sinta útil e tome boas decisões? Dessa forma, as coisas fluem mais devagar, mas são mais conscientes, mais saudáveis e duráveis… Com três filhos, sinto essa dificuldade diariamente, e senti-o mais intensamente durante o confinamento. Os três miúdos, dois adultos, um dia inteiro, e a gestão de vontades… ufa…! É um grande desafio e a certa altura senti que não cumpri “tudo” isto à risca. Ok, sou humana, somos todos.
As questões são: por um lado, quanto tempo queremos passar lá e por outro, mostrarmos amor aos nossos filhos mesmo nesses momentos difíceis. Eles se momento difícil. A todos faço questão de explicar que a mãe não gostou especificamente de um comportamento deles, o porquê, opções para poderem fazer diferente no futuro e que os amo da mesma forma, sempre e para sempre…
Quando não deixamos que os miúdos explorem e os desincentivamos, os desencorajamos, os culpamos, os envergonhamos (mesmo que seja com a melhor das intenções), predispomos adultos inseguros e sem iniciativa… é mesmo isso que queremos?
Como começar?
Conversando com eles através de uma linguagem afetiva:
- Evitando discursos longos
- Conectando-se com a criança evitando o tom autoritário
- Avisando a criança uma vez e esperando o resultado, às vezes a criança demora um pouco mais (do que gostaríamos) a reagir
- Olhando-o nos olhos
- Tratando-o pelo nome próprio
- Ouvindo-o pacientemente até ao fim
Em situações normais todos os pais amam os filhos. Muitas vezes não se conectam com eles e os métodos que usam são os mesmos que (inconscientemente) aprenderam com os seus próprios pais e/ou educadores quando tinham a idade que o filho tem nesse momento, gerando muitas vezes medo, culpa e vergonha. A boa notícia é que esse comportamento depende de nós. Haja consciência e vontade para fazer diferente.
Não é fácil, é possível! E então, vamos praticar?
Encontra mais vezes a felicidade na tua família! ♥
#beyounique
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