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Desculpa, de coração mamã! ♥

Um dia, de manhã, enquanto ajudava os meus filhos gémeos a vestirem-se, um deles magoou o outro durante uma brincadeira. Quando fui perceber o que se estava a passar (procurando não me meter no problema… e já me metendo, sem desculpa…) pergunto o que se passou perante o choro interrupto do filho magoado. Depois de algum tempo ele disse que o irmão o tinha magoado sem querer, mas que lhe doía. O filho acusado estava aparentemente impávido e sereno a observar o irmão.

Então eu perguntei: – Filho, não tens nada a dizer, ou algo a fazer, já que o teu irmão diz que durante a vossa brincadeira ficou magoado?

Ao que o pequeno responde: – Desculpa, mano.

O outro (aparentemente) amuado diz: – As desculpas não se pedem. Foi a professora que disse.

(Ups! Pensei eu… E isto agora?)

Perante isso, eu perguntei:

– Será que a professora estava a falar de todas as formas de pedir desculpa?

A cara dele foi cómica, num misto de surpresa e apreensão.

E perguntou: – Mamã, há várias formas de pedir desculpa? (e o choro tinha parado)

– Eu acho que sim filho. Respondi.

E continuei perguntando: – Achas que há alguma possibilidade de se poderem pedir desculpas? De serem válidas, de serem verdadeiras?

Ficou em silêncio.

Então eu prossegui: – Tu já pediste desculpa à mamã antes. Foi Verdadeiro? Questionei.

– Sim, foi. Respondeu.

– Porquê filho?

– Porque veio do coração, mamã.

 

As Desculpas Podem-se Pedir

Poderia apresentar as justificações para que o que nós dizemos aos nossos filhos, alunos, netos, sobrinhos, fique… Fique de alguma forma gravado na sua mente e que de forma mais ou menos consciente, mais ou menos clara, o passem a usar, de facto, no seu dia a dia.

Se por exemplo, num ato movido pela raiva, porque alguma das nossas regras ou valores foi corrompido, dizemos a uma criança pequena que aquele recurso – pedir desculpa – não é válido, é muito provável que, se essa criança nos respeitar, fique sem ele. Porque para eles é linear, é ipsis verbis.

Já diz o provérbio: “As desculpas não se pedem, evitam-se”… Então, e o que é que este provérbio pode provocar em crianças (sem filtros)? Que não se peça desculpa, numa próxima vez, por exemplo.

O que se faz então no caso de querer pedir desculpa e não “poder”?

Ficar calado, esconder-se, fugir…?

E que interpretação vão fazer disso?

Perante uma situação em que queremos pedir desculpa, pode-se procurar compensar o outro, corrigir o erro ou a falha, mas eu não posso concretizar nada disso se o outro não aceitar. Mas, pedir desculpa e querer reparar depende só de mim (ainda mais se vier do coração ♥)

Ok, e se o outro não aceita, tu que és pequeno, e querias pedir desculpa, ficas com o quê?

Talvez com a culpa, com a vergonha, com o remorso, com a dor…

O que é que podes fazer perante isto quando és pequenino?

Talvez procurar ser PERFEITO seja uma opção…

Alguém é perfeito?

Se não podes pedir desculpa com 5 anos, ficas sem um recurso importante na resolução de problemas. Errar faz parte, desculpar-se também. Se tiras uma das partes, influencias a outra.

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Desculpa: Ao dia de Hoje

Hoje lia-lhes um livro – “Eu Sou Humano” – que a certa altura dizia: «Posso dizer “desculpa” e pedir perdão.»

Um dos pequenos comentou:

– Mamã, podemos pedir desculpa com o coração. Assim é verdadeiro…

Segundos depois continuou dizendo: – Mamã, também podemos pedir desculpa ao nosso coração por termos feito aquilo que não queríamos… (numa aproximação de autocuidado e de autorreparação, num diálogo interno terno e que se vai tornando mais consciente)

O seu irmão, sentado ao seu lado, olha para mim e diz:

– Mamã, não sabia que o meu irmão sabia estas coisas…

 

Os nossos valores se forem vistos como um conceito flexível, que podem ser priorizados de acordo com a situação, permite que nos adaptemos a diferentes contextos, sem deixarmos de ser nós mesmos. E ao mesmo tempo, essa flexibilidade, para mim, aproxima-nos de um maior bem-estar connosco e com os outros.

 

#beyounique

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