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Descobrir a contribuição em casa!

Onde começa a contribuição em casa e acaba a tarefa? Veste os miúdos, faz o pequeno almoço, prepara as lancheiras, arruma a cozinha, leva-os à escola, trabalha o dia todo, vai rápido ao supermercado, passa direto para ir buscar os miúdos à escola, desinfeta os sapatos, coloca a roupa para lavar no cesto especial à porta de casa (por causa do COVID), dá banho aos miúdos, faz o jantar, arruma a cozinha, coloca uma máquina de lavar a roupa e 1 hora e meia depois programa a de secar, lava-lhes os dentes, conta uma história às crianças, e finalmente descansa (se os miúdos não acordarem durante a noite, ou se não houver outra “tarefa” a desempenhar nesse dia)… este é um cenário, mais ou menos comum quando as escolas estão abertas, porque em confinamento as rotinas variam mais.

TU (mãe ou pai) não tens que fazer tudo!

Não deves fazer tudo, e é inclusivamente antipedagógico e pouco salutar acumulares a grande parte das funções, tarefas ou como alguns lhe chamam, obrigações. Vocês, enquanto família podem optar por praticar a contribuição em casa. Cada um contribui para o sistema, com o que pode, o que sabe, o que gosta, e o que acordam entre todos.

Então como é que se pode começar com a contribuição em casa?

Em primeiro lugar as crianças A-DO-RAM sentir-se úteis, aliás, todos nós. Então, é deixá-los ajudar… É deixá-los contribuir para o bem comum, o bem de todos – ajudar a fazer o jantar, a pôr a mesa, a dobrar a roupa, a pôr a secar, a arrumar depois de passar… e no final agradecer pela contribuição para o bem estar familiar e fazê-los reconhecer que contribuíram para esse bem estar. Repara que não és tu que reconheces, faze-los reconhecer, através, por exemplo, de uma frase do tipo: – “Deves estar orgulhoso do que fizeste… contribuíste para todos estarmos a comer esta deliciosa refeição…” A criança reconhece e SENTE que contribuiu VERDADEIRAMENTE e de forma diferenciada para a confeção daquela refeição. Esse facto gera-lhe tanto sentimento de PERTENÇA, como de SIGNIFICÂNCIA.

De acordo com o psiquiatra Eric Berne as necessidades biológicas e psicológicas dos nossos filhos são apelidadas de “fomes” e à semelhança daquilo que fazemos quando os nossos filhos têm fome – lhes damos comida – para suprimir a necessidade de estimulação é necessário que a pessoa, neste caso, os nossos filhos, sejam tocados e reconhecidos e de sentir que são capazes de fazer por si; que são capazes da marcar a diferença e de fazer as coisas sozinhos; de sentirem confiança de que estão a contribui de forma significativa para a família e que sem o seu contributo não seria a mesma coisa; que têm esse PODER pessoal.

Agora, reconheço porque o vivi, que pode haver uma linha ténue no entendimento das crianças, entre a “tarefa”/obrigação e a contribuição. E é por vezes complexo fazê-los entender, por isso é, muitas vezes, é mais fácil fazê-los sentir. Para isso é necessário que o sintas tu primeiro e depois, da mesma forma que lhes ensinas outros valores, ensinas e ages em conformidade com esse valor. Quando tu deixas de ver as “tarefas” como obrigações, eles também o deixam. Podem não gostar, mas se têm um propósito, sabem que o devem fazer e porque o fazem.

 

Todas as mudanças exigem TEMPO e PACIÊNCIA

Todas as mudanças exigem tempo e paciência com todos os intervenientes e vão haver “dores” de crescimento, desalinhamentos e percalços, porque simplesmente faz parte.

Resultou comigo e com a minha família, ou por outra, está a resultar comigo e com a minha família, porque é algo que se alimenta, que se nutre diariamente.

Imagina agora que os teus filhos (e às vezes também o marido/mulher) percebem verdadeiramente que vocês são uma equipa, um clã, um grupo, são um sistema em que TODOS devem, por respeito, aos restantes, CONTRIBUIR? Que não és empregada/o deles, que os serves porque os amas e que esperas deles o mesmo contributo. Que emoções te produziria se isso acontecesse? O servir é uma linguagem de amor e falo dela num outro artigo que podes consultar aqui (depois de leres este :P)

 

O que fazer quando os nossos filhos não querem colaborar?

A minha filha não assimilou de imediato o conceito de contribuição, até que o sentiu. Para ela, arrumar a sua roupa, ou fazer a cama era uma obrigação, eram ações que podia muito bem ser eu a fazer… isto porque não foi habituada desde pequena a fazê-las. Quando eu percebi a importância da contribuição e deixei de ver as tarefas domésticas como uma obrigação, mas como uma contribuição para a minha família, eles começaram a senti-lo e a quererem fazer o mesmo. Isto porque o “servir” é uma forma de demonstração de amor, uma linguagem de amor.

Desde logo o teu exemplo é fundamental. A mudança deve começar por ti. Quando tu mudas o teu pensamento, o teu comportamento muda, logo a teu ambiente muda. Tu impactas diretamente o teu ambiente e o teu ambiente impacta diretamente o teu comportamento.

Depois, é importante alinhares com o teu companheiro/a este valor – contribuição – para em conjunto terem uma conversa com os filhos, para os consciencializarem da importância e do impacto POSITIVO deste conceito de contribuição em casa. E em seguida “começa pequeno” e sem expectativas. Acorda com eles pequenos compromissos. Começa por identificar o que gostam mais de fazer – lavar, cozinhar, arrumar… e convida-os a fazê-lo contigo, acompanha-os enquanto fazem, dando-lhes um reforço positivo no final que remeta para o reconhecimento daquilo que fizeram e que contribuíram para a família:

-“Valeu a pena o teu trabalho”;

-“Gostei de passar este tempo contigo”.

Se não querem pode ser porque não os deixaste (quando quiseram) ou alguém fez por eles o que podiam fazer por si, então teremos que ser mais pacientes. Pode demorar meses até se alinharem com este princípio. O ser humano é um ser de hábitos e cresce a aprende a partir do seu ambiente, dos comportamentos que vê nos outros e em si mesmo, das suas experiências e a partir daí constrói as suas crenças, valores, identidade e propósito. O bem comum, a contribuição em casa assenta no propósito – no para quê e influência diretamente os nossos valores, crenças, conhecimento, comportamento e por fim, impacta o nosso ambiente familiar.

Estimular os filhos mais pequenos na contribuição em casa?

Deixo-os colaborar no que quiserem e mostrarem interesse. E sim… é necessário ter paciência… e assumir que tu farias melhor, mas que ainda assim sabes porque o fazes e deixas que sejam eles;

  • Enquanto passo a roupa eles aproximam-me a roupa e depois fazem “equipas” = montes de peças semelhantes, com a roupa passada;
  • Colocam os cereais no leite;
  • Misturam a farinha com a água ou com o leite quando comem papa ao pequeno almoço;
  • Barram manteiga no pão (com uma faca que não corta nem uma banana);
  • Colocam roupa na máquina de lavar a roupa;
  • Levam os seus pratos para a banca;
  • Ajudavam a arrumar as compras (antes do COVID);
  • Aquando do primeiro confinamento passámos a fazer piqueniques na sala ao sábado e domingo à noite. Básicamente jantamos a ver um filme de animação. E está “instituído” que são os mais pequenos que põem a “mesa” no chão da sala. Divertem-se imenso (e lá vai um sumo para o chão, uma pisadela com chinelos em cima da toalha, uma viradela de salada de fruta… e faz parte…);

Entre outros… Eles gostam e nós também! É bom para nós e para eles!

 

Nos materiais para download abaixo preparei uma proposta para, por idades, os miúdos começarem a contribuir em casa e ainda uma proposta de planeamento da semana para se melhor organizarem 😉

Encontra mais vezes a felicidade na tua família! ♥

#beyounique

-♥-

 

Descarrega aqui os materiais que preparei para trabalhares em ti e com os teus pequenos:

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