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Comunicação Não Violenta: Uma (Nova) Forma de Comunicar

Como mãe às vezes cometo erros, há dias em que grito, faço que não vejo certas coisas, faço coisas por eles que poderiam muito bem ser eles a fazer, não concretizo as consequências que tinha avançado por inteiro, porque não tenho nem vontade, nem forças… Felizmente isto acontece cada vez menos vezes, porque nessas alturas procuro olhar para dentro de mim e perceber o que é que realmente me impede de entrar em contacto com o meus filhos… De início custou-me um pouco aplicar a comunicação não violenta, porque estava habituada a lidar de certa maneira com eles. Depois começou a fluir mais naturalmente. Estou a encontrar uma (nova) forma de comunicar com os meus filhos.

Um dos meus gémeos tem muitos sequestros emocionais – ou por outra, faz birras! Na verdade fazem os dois, mas agora lembrei-me do episódio com um deles… Nesse dia negava-se a ir sentar-se para jantar… estávamos todos a aguardar por ele… o meu marido chamou-o calmamente, eu também, os irmãos chamaram-no, e nada… o meu marido chamou-o de novo, desta vez um pouco mais firme… e nada, negava-se… e foi então que pensei que se o levássemos para a mesa “à força” mesmo que sem o magoar, para além de ter “o seu lado violento” iríamos demorar muito até resolver a birra. Decidi ajoelhar-me, escolher o meu melhor tom de voz e “bater-lhe à porta” (imaginária):

– “Truz, truz. Posso entrar?”, perguntei. E qual não foi o meu “espanto” quando ele a abriu a porta. Perguntei se podia entrar e ele disse que sim. “Entrei” e perguntei-lhe se queria boleia para a mesa. Ele respondeu simplesmente: – “Sim”. RESOLVIDO! Estava “encontrada” uma uma (nova) forma de comunicar com os meus filhos.

Comunicar com o Coração

Uma coisa que resulta comigo é tentar ESCUTÁ-LOS verdadeiramente. Colocar-me ao mesmo nível do olhar da criança e tentar perceber de que precisa, o que sente e o que quer, mesmo que não goste do que está a acontecer naquele momento pode ajudar, e muito. Não me deixar sequestrar emocionalmente é fundamental. Estimo que 90% das vezes que lhes pergunto de que necessitam naquele momento eles respondem: – “Mimo, mamã. Quero mimo”. Um abraço e um beijinho e fica resolvido.

Se consigo sempre que fique resolvido rapidamente? Não… ou porque eu não estou com o “mood” (estou em treino), ou porque eles não colaboram e não há tempo ou margem para… e temos que adiar a resolução da questão, mas na maioria das vezes isto resulta.

Como mãe (e claro, como coach) procuro diariamente trabalhar a educação sem gerar medo, culpa e vergonha nos meus filhos (e nos outros)… e deixá-los crescer de forma saudável permitindo que sejam ELES mesmos, a partir de uma educação que procuro que seja sem dramas e a partir de uma comunicação não violenta. A chave está para mim, em tentar não querer que sejam parecidos com aquele ideal de criança que todos temos na nossa cabeça… (seja ele qual for…)

Uma Nova Forma de Comunicar

A Comunicação Não-Violenta, também considerada por muitos um estilo de vida, foi desenvolvida pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg e vem propor uma nova forma de comunicar, cujo foco está nos diálogos baseados na eficiência da comunicação. Para Marshall, uma comunicação para ser integral e satisfatória só pode ser feita a partir –  de uma (nova) forma de comunicar a – da EMPATIA, a do amor pelo próximo. Acontece que as nossas reações enquanto seres humanos são muito mecânicas e baseadas em perguntas e respostas. E por isso, agir com empatia não é uma tarefa fácil.

Não costumamos gastar energia em olhar em profundidade para o assunto e muitas vezes precipitamo-nos no que dizemos acabando por falar de mais… e outras vezes, a meio do processo não sabemos o que fazer ao certo e na nossa cabeça surge a questão: – E agora, o que é que eu faço? E logo a seguir vamos para a nossa zona de conforto… a do chacal (já vais perceber…) e a coisa tende a descambar…

A Analogia dos Animais de Rosenberg

Rosenberg desenhou uma analogia muito interessante centrada em dois animais: a girafa e o chacal e diz-nos que todos os seres humanos têm características de ambos os perfis. A grande questão é onde queres passar mais tempo.

  • O chacal é um predador da família das raposas que vive em casal monogâmico, defende o seu território perseguindo invasores e intrusos e delimita com urina e fezes o seu território.
  • A girafa é o animal da terra com o maior coração; como é muito alta mesmo com os pés bem assentes na terra consegue ter uma visão de cima. Com uma visão lúcida e bastante mais ampla que qualquer outro animal, tem a capacidade de mastigar, engolir e digerir até espinhos, sem que lhe façam mal.

Esta analogia, da comunicação não violenta, permite-nos listar a atitude de um e de outro perante uma discórdia ou conflito:

Comparação de uma comunicação não violenta com uma violenta

A Comunicação Não-Violenta

A Comunicação Não-Violenta constrói-se sobre quatro pilares:

Os quatro pilares da comunicação não violenta

  • 1.º Observação – Fase em que devemos observar e ouvir o outro, sem fazer juízos de valor, sem preconceitos. Por exemplo: Quando chamas a tua filha para a hora do estudo e ela te diz que não quer e que não vai. Ou porque a chamas e ela começa a barafustar porque são muitas coisas para fazer, porque agora é só trabalhos, trabalhos, trabalhos… e “aqueles” nem são os professores dela (COVID-19 + Escola Pública =  TELESCOLA).
  • 2.º Sentimento – Esta é a fase em que nós paramos para perceber o que é que aquela conversa provocou e depois o que SENTIMOS em relação a esse resultado… Temos que ser capazes de identificar o que sentimos: medo, raiva, tristeza, felicidade… Voltando ao exemplo anterior, não é muito fácil ouvir aquelas respostas sem levá-las para o lado pessoal, porque para ti, no imediato pensas que te “está a desobedecer” ou te “está a desrespeitar”, te “está a contrariar”… e depois, como avaliaste e julgaste o que ela te disse, surgem os pensamentos na tua cabeça do tipo: – E agora? Se ela com 8 anos já faz isto como será aos 15? Tenho que tratar disto de alguma forma…
  • 3.º Necessidade – Que valores, necessidades e desejos te fizeram sentir assim? Enquanto criança tive uma educação muito rigorosa, não era severa, era antes muito exigente. Os meus pais deram-me carinho, atenção, amor, e também eram muito exigentes, na forma de nos comportarmos à mesa, na forma como falávamos, no (curto espaço de) tempo exigido entre a ordem ser dada e ser cumprida, na exigência da delicadeza dos nossos comportamentos, etc. Era algo muito apreciado depois na escola e noutros meios porque éramos (os filhos) “educados”, muito educados. E o facto da minha filha não se comportar dessa forma,  mesmo porque não lhe imprimamos essa exigência – ensino-a, mas não a “sufoco” em regras – faz com que ela experimente mais, escolha mais. Concluindo, o que sinto, em certas situações, é que ela está a ir contra os meus valores, contra o meu valor de respeito, mas sobretudo, a minha necessidade é ter harmonia e paz.
  • 4.º Pedido – Nesta fase devemos pedir e não tentar esperar que o outro adivinhe o que nós queremos que aconteça ou desejamos. Como somos adultos (e mesmo que não fossemos) temos que pedir de uma forma clara e eficaz. Aqui temos que ser muito claros, esse é o ponto-chave. É claro que para teres sucesso nesta fase tens que ter executado bem as anteriores, porque é muito mais fácil dizer ao outro o que queres quando sabes exatamente o que queres.

Conversei com a minha filha e contei-lhe a minha história. Partilhei com ela o tipo de mãe que gostaria de ser. Disse-lhe o que esperava dela e depois disso, estamos em teste.

Interioriza…

A partir do momento em que interiorizas isto surpreendes-te com a quantidade de vezes, por dia que identificas em ti e nos outros os rasgos do Chacal. Embora o modelo seja simples não é fácil de pôr em prática, isto porque, por defeito esta não é a nossa forma de estar. No meu caso acho que acontece (felizmente agora menos) porque nunca nos ensinaram a fazê-lo. Por certo, não aprendemos a observar-nos por dentro, nem a falar connosco; ou porque as nossas reações enquanto seres humanos são muito mecânicas e baseadas em perguntas e respostas e isto automatiza-se; ou, porque aos factos juntamos imediatamente juízos de valor aos quais reagimos.

Como em tantas outras situações, a tomada de consciência é o primeiro passo para poderes fazer algo. E a partir daí começas a dar os primeiros passos, pouco a pouco, até conseguires fazer as coisas de maneira diferente. É uma viagem para a qual nos temos que preparar, mas, eu acredito que vale a pena.

Encontra mais vezes a felicidade na tua família! ♥

#beyounique

-♥-

 

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