
Chorar, faz parte?
Esta semana está a ser uma semana de emoções, a mais velha fez anos, começou o ano letivo para os três, os mais novos mudaram de escolinha… e felizmente estou satisfeita com o que vejo, oiço e sinto que está a acontecer (o que não é igual a dizer que está a correr “tudo bem”, mas, isso daria para outro artigo). O que é que isto tem a ver com o título: Chorar, faz parte? Vamos lá ver.
Então, esta semana fui levar os meus pequenos à nova escolinha, já todos artilhados de bata, chapéu e mochila, e nós com dois sacos de material escolar. Eles iam entusiasmados…
Estava um dia de sol e quando chegámos estava uma fila de pais e de meninos, uma fila que se estendia até à estrada. “Todos” os pais queriam saber qualquer coisa a mais do que os seus olhos podiam ver, e a funcionária apontava os almoços, as saídas mais cedo e acomodava os sacos do material escolar portas dentro.
Um pai interagiu connosco pelo facto dos meus pequenos serem gémeos (algo comum), nós respondemos com simpatia e, aguardávamos para chegar ao portão. Chegámos finalmente!
Mais Perto do Portão
Perto de nós estava (mais) uma mãe com o seu filho. Ela encostada ao muro da escola, o pequeno esticando-lhe os braços, pedindo colo. E a mãe de pé junto ao filho, olhando para ele de cima e com o dedo esticado perguntava: – “Porquê? Vais chorar agora, é?” O pequeno respondeu qualquer coisa que eu não entendi… E a senhora devolve-lhe: – “Então, não chores!” Este discurso e o comportamento do miúdo foram-se repetindo e subindo de intensidade. À medida que se aproximava a sua vez ele gritava mais. Esta situação culminou com a funcionária a levar o miúdo nos seus braços, num pranto, após tentativas de ir de mão dada com os outros, no chão com a funcionária, quase de rastos porque não mexia os pés, até que foi ao colo.
Esta situação pode ser algo comum, mesmo porque desde o início da semana que assisto a situações com semelhanças.
Não podem Chorar, mas eu dou o meu melhor
As pessoas fazem o que podem com os recursos que têm. As mães, os filhos e as funcionárias. Cada um age como sabe, tomando decisões conscientes ou inconscientes, com os recursos que tem. E como acredito mesmo que muitas pessoas desconheçam a importância que chorar tem na vida de um ser humano resolvi escrever este artigo. Chorar é uma RESPOSTA NATURAL do ser humano, e é muito útil para a nossa autorregulação. Serve para regular as emoções, para as exteriorizar, para nos conhecermos e reconhecermos melhor.
Chorar é tão natural e espontâneo como comer, correr, ir à casa de banho, ou coçar-se…! Deveria ser normal que uma pessoa – criança ou adulta – pudesse chorar sem ser julgada por isso, como acredito que seja o mais comum de acontecer com as situações anteriormente referidas no início deste parágrafo.
Mas, para MIM, não é nada…
Para nós AQUELA situação pode não ser “nada”… Excelente! Saibamos que temos outros recursos, outa(s) experiência(s), outra maturidade. Acolhamos os miúdos porque, para eles, AQUELA situação representa MUITO! Escutemos os miúdos, façamos com que se sintam compreendidos, digamos que os amamos e que os viremos buscar mais tarde. “Deixemos”, aceitemos e permitamos que chorem porque o choro é algo que nos incomoda a nós, não a eles, logo, a existir um problema é connosco, não com eles. Podemos dar-lhes um abraço profundo com amor para que sintam essa “força” e possam levar um pouco dela com eles?
Chorar drena as emoções, ajuda a nivelar aquilo que sentimos, é um mecanismo natural que permite libertar o stress, emoções dolorosas e reprimidas, sendo também uma resposta habitual quando contactamos com emoções prazerosas como a surpresa, o amor e a alegria.
Se não “os permitimos” chorar, como podem eles fazer a gestão das suas emoções com os recursos que têm?
Não fazem.
Não pode chorar, o que fazer?
Crescem na mesma, vão à escola na mesma, estudam na mesma, só que:
- sem poder fazer uso de um RECURSO natural importante;
- com as emoções num turbilhão;
- e/ou reprimindo as suas emoções.
É “fácil” adivinhar que isto pode muito bem gerar outros problemas “mais adiante”, certo?
Este artigo é um misto de desabafo, de alerta, e de transmissão de AMOR, CONHECIMENTO, COMPAIXÃO E EMPATIA.
“Deixemos” chorar, por favor, porque chorar faz parte.
Muito obrigada pela partilha. Estou plenamente de acordo com o que escreveu… E sou uma mãe a passar pelo mesmo problema.
Bem haja.
Obrigada! Para mim, mais do que ser um problema, trata-se de nos desafiarmos e de nos encontrarmos enquanto mães. De avançarmos sabendo para onde vamos, enquanto mães.
Grata!