Paula Pinto Almeida / Criatividade  / O Cantinho da Calma
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O Cantinho da Calma

Já andava há uns tempos a pensar trazer para nossa casa o Cantinho da Calma, até que chegou a um fim-de-semana que pegámos nos meninos, fomos a uma superfície comercial e dissemos-lhes porque tínhamos ali ido. Na verdade invertemos o caminho, dissemos para que íamos sair e o que era esperado deles primeiro, e depois fomos à dita superfície comercial.

Dissemos que era importante construir em nossa casa um espaço que nos inspirasse calma e tranquilidade. Um lugar para onde pudéssemos ir sempre que nos sentíssemos mais agitados, zangados, tristes, ou com alguma emoção ou sentimento mais desconfortável. Eles adoraram a ideia!

O Desafio do Cantinho da Calma

Desafiei-os então a escolherem, cada um, uma a duas coisas para decorar ou montar o cantinho da calma, para que esta pudesse ficar ao seu gosto e confortável. Desde almofadas, a peluches escolheram uma a duas coisas com vista a decorar, entreter e acalmar.

Ao chegarmos a casa foi uma emoção, escolher o lugar, desempacotar, montar e perceber como usar o cantinho da calma. Eles sabem que não foi montado para se ir para lá brincar, embora se possa brincar lá; não foi montado para se dormir lá, embora se possa acabar por adormecer; e não foi feito para cantar lá, embora se possa cantar… sabem que foi montado para irem regular as suas emoções.

Usam-no. Vão para lá por iniciativa deles. Gostam.

Como montar o Cantinho da Calma

Há pouco mais de uma semana fiz um story sobre o cantinho da calma, dizendo que o nosso cá de casa nos ajuda muito. Perguntei se também o tinham em casa e 67% das respostas dos seguidores revelaram que não. Em seguida perguntei se havia dúvidas e… havia. Vou partilhar aqui algumas das mais relevantes, talvez essas dúvidas possam também ser as tuas e em seguida as respostas:

As crianças acalmam-se mesmo, no cantinho da calma?

Sim. As crianças conhecem e reconhecem à priori para quê existe um cantinho da calma. Sabem qual é o seu propósito e, sabem que existe para que possam, ao seu ritmo, acalmar-se e retomar a sua vida desde um lugar emocional mais equilibrado.

 

As crianças não associam o cantinho a castigo?

As crianças vão associar o lugar à experiência que têm nesse lugar. Se usarmos o lugar para os castigar eles vão associar a castigo. Agora, se o utilizarmos como um espaço a que podem recorrer, por livre e espontânea vontade sempre e quando se sentirem emocionalmente instáveis, de uma forma livre, sem acusações e sem julgamento, associarão às emoções que lá viverem e à regulação que lá produzirem.

 

Qual a diferença entre o sentar para pensar e o cantinho da calma?

A diferença “é toda”! Segundo li, o “cantinho para pensar” virado para a parede foi desenvolvido por um psiquiatra que acompanhava pais há muitos anos e percebeu que destes, perante os comportamentos desafiantes dos filhos, a maioria, se enervava e lhes batia. Então decidiu dizer aos pais (com o intuito de que não batessem aos filhos) para pararem tudo nesse momento e colocarem os filhos para pensar.
As crianças pequenas necessitam de ajuda para pensar, necessitam de movimento e, ou de acompanhamento na conversa para raciocinarem sobre o acontecido e inferirem, isto de uma forma respeitosa. Não possuem ainda o seu pré-frontal desenvolvido e não têm a sua parte racional desenvolta. Pelo que, o momento de pensar foi feito para os pais e “não” para os filhos. Dessa forma, a cadeira para pensar, ou o cantinho para pensar acaba por ser uma sansão disfarçada, o que pode despoletar ou alimentar emoções como a raiva, vergonha, humilhação, desejo de vingança, tristeza, mágoa, dor e culpa. A criança consegue distinguir o que é recorrer a um espaço e a outro.

 

Que tipo de elementos tem nesse cantinho?

Nós montámos o cantinho da calma tendo por base um cesto em metal com tampa, para arrumar lá dentro todos os elementos. Dentro temos uma almofada fofa (muuuuuuuito fofa), um peluche, um candeeiro cuja luz varia de intensidade e de cor, uma planta para dar ambiente, almofadas para sentar, livros e um globo de purpurinas. E pode ter outras coisas.

Como comecei por dizer, foram eles que escolheram os elementos e acredito que se possam adicionar mais elementos (como música, fragrâncias, brinquedos…, etc). Coisas de que gostem e que ajudem a aclamar.

Nós (pais) compramos e montamos e depois dizemos para que serve?

O ideal é envolver as crianças desde o início, envolvê-los na conceção do espaço, na atribuição do seu nome, e partilhando com eles a experiência que acreditamos que que poderão lá viver. Há toda uma harmonia e predisposição que se constrói quando se envolve as crianças desde o início neste tipo de projeto.

 

Quanto tempo permanecem lá as crianças?

O tempo que permanecem no cantinho da calma são eles que o definem. Faz parte do processo de compreensão das suas emoções e dos seus sentimentos, perceber quando a emoção está “regulada”. É por isso que é importante que a criança defina quando quer sair do cantinho da calma, o que não impede os pais de sugerirem, se assim o entenderem, que lá permaneça um pouco mais de tempo, nomeadamente se sentirem que os filhos ainda não baixaram ou nivelaram as suas emoções.

 

Os pais podem ir acalmar-se lá?

Sim. Os pais podem ir acalmar-se lá dando o exemplo, lá ou criando o seu próprio cantinho da calma.

 

A partir do momento em que as crianças aprendem a parar quando sentem uma emoção desagradável, começam a compreender os seus sentimentos e, com o tempo, passam a desenvolver maior autocontrolo. É por isso que o temos em nossa casa, é por isso que querem voltar lá uma e outra vez. É por isso que respeitam esse espaço e o arrumam sempre depois de o usarem.

 

O cantinho da calma ajuda muito cá em casa!

 

Encontra mais vezes a felicidade em ti e na tua família! ♥

#beyounique

Comentário: 1

  • Sandra Rebanda Fevereiro 25, 2022 1:18 am

    Que bom encontrar-te Paulinha!!! Fiquei muito feliz ao descobrir este teu projeto, e Adorei a dica que dás no texto, vou pô-la em prática cá em casa! Um grande xi-💖

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