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Ansiedade uma outra perspetiva

Ansiedade, uma outra Perspetiva

Quando foi a última vez que te sentiste preocupado ou ansioso em relação a alguma questão familiar? Neste artigo vou abordar o tema da ansiedade, numa outra perspetiva,

E se fica doente novamente e eu tenho que faltar ao trabalho? Ainda me despedem um dia destes… E se se magoa naquele parque de diversões de que tanto gosta? Se cai? Ou se se perde? E se foge? E se come alguma coisa estragada? Ou se tem frio? E se se molha? Ainda se constipa? E se lhe baterem?… Eu compreendo o que isso é, e que pensamentos são esses, acredita. Durante muito tempo também me acontecia (e às vezes ainda me acontece… porque sou um ser humano, nada a fazer quanto a isso…)

Já reparaste que em todas essas situações em que “te colocas” quando tens pensamentos destes, a tua mente viaja para o futuro?

Já pensaste que ao mesmo tempo cada vez que fazes isso acontece perdes o teu rendimento (cognitivo) e a capacidade de utilizar os teus melhores recursos para gerires o que sentes? Claro que podemos trabalhar sobre projeções (ou seja com base no futuro), mas não seremos produtivos se o fizermos tomados pela emoção, porque as tuas decisões a partir desse lugar não serão as mais “inteligentes”.

Por que aparecem a preocupação e a ansiedade?

Recordo-me de quando os meus gémeos estiveram internados na neonatologia um mês e uns dias logo à nascença. Depois de um mês internada para evitar um parto pré-termo ficaram eles internados. Durante todo o meu internamento, durante algumas horas do dia, permanecia preocupada e ansiosa relativamente ao seu nascimento, ao seu internamento na neonatologia, ao seu peso, movimento, saúde, etc. Todo esse tempo, durante umas horas por dia, a preocupação e a ansidedade apareciam e lá ia eu ao futuro, tentar prever o que ia acontecer num estado de constante preocupação. De um momento para o outro eles tinham nascido antes do tempo, eu não os pude ver logo em seguida e lá estavam eles “sozinhos” na neonatologia…

Sabes o que aprendi? Que o estares preocupado e ansioso não determina que irás conseguir sair daquela situação em melhor “estado” do que se não te preocupasses. Ao mesmo tempo, aconteceu tudo de acordo com os cenários que eu temia (a meu ver, não desenhei cenários catastróficos; eram só “maus”), e o tempo que permaneci preocupada não “mexeu uma palha” para me colocar numa posição melhor. Com efeito, o grande problema da ansiedade é que não sabes exatamente aquilo que te dá medo… porque é uma percepção generalizada, aquela que tens. Então, tanto a preocupação como a ansiedade são movimentos da nossa mente no sentido do futuro. Um futuro no qual ainda nem sequer entraste, um futuro que pode de um momento para o outro mudar.

Formas de reagir à Ansiedade e à Preocupação

Quando os meus gémeos ficaram internados, mudei a forma de viver o estado de “sobrevivência”. Vivia um dia de cada vez, a fazer TUDO o que podia para que esse dia fosse (o) melhor. Tirava leite, 3 a 4 vezes por dia, com bombas extratoras “profissionais”, partilhava o espaço com mais mães que faziam o mesmo (muitas delas não conseguiam tirar uma gota de leite), enquanto olhávamos para uma parede durante o processo. E, depois de encher vários biberões sentia-me feliz – no primeiro dia consegui tirar 30 ml e senti-me igualmente satisfeita. Não pensava no amanhã, pensava no agora e no bem que aquele leite lhes ia fazer.

Nesta última situação eu olhei somente para o presente. Era uma situação de sobrevivência, mais uma. Mas, encarei-a de uma maneira “ligeiramente” diferente.

Ao mesmo tempo, o que mudaria se pudesses olhar para diferentes hipóteses e cenários do futuro (que te geram ansiedade) e gerar opções para cada uma delas? Parece bem, a grande questão é que geralmente fazemos isso a partir das emoções – preocupação e ansiedade – o que nos reduz a clareza, os recursos, e as possibilidades fazíveis de levar essa epopeia até ao fim. Porque o lado emocional não nos permite ser totalmente eficazes a fazer isso.

Somos Répteis (ansiosos)?

Geneticamente o nosso cérebro está desenhado em três níveis – o chamado cérebro trino (cuja teoria foi desenvolvida em 1970 pelo neurocientista Paul MacLean, e apresentada em 1990 no livro “The Triune Brain in evolution: Role in paleocerebral functions”). Temos por isso o cérebro dividido em três unidades funcionais diferentes. Cada uma dessas unidades representa um estádio evolutivo do sistema nervoso dos vertebrados.

 A primeira parte (também conhecida como cérebro institivo ou reptiliano) é a que tem mais poder, a que domina tudo porque está diretamente relacionada com a nossa sobrevivência – é o nosso cérebro reptiliano. Quando estamos muito preocupados entramos num estado em que só conseguimos atacar, fugir ou defender-nos. Quando nos sentimos muito ameaçados tendemos a ter respostas muito mais primitivas e baseadas nestas três opções – é um clássico. Já te apercebeste disso? É commumente falado “ficar cego”, “flipar da cabeça”, “entrar em parafuso”, “dar o tilt”, enfim… “passar-se”… Acontece a toda a gente!

No cérebro emocional funciona o sistema nervoso e, para além das faculdades do cérebro reptiliano, conta ainda com a capacidade de controlar o comportamento emocional dos seres humanos, pois é neste nível que se encontra também a nossa amígdala, muito relacionada com o medo, a ira (e a respiração). Quando te deixas sequestrar pela emoção e vês nisso uma ameaça voltas ao modo reptiliano e lá vamos nós de novo “entrar em parafuso”…

O nível 3 é o cérebro racional, e é apenas pela presença do córtex que o homem consegue desenvolver toda a sua parte criativa, de planificação e de organização, de comunicação, de estratégia, de gerar ideias, seguir uma lógica, tomar decisões, ser empático, ter capacidade de análise, e de ética.

A falta de empatia dos outros (e a a nossa?)

As pessoas queixam-se muitas vezes da falta de empatia das outras… agora já sabes porque é que isso acontece. Estão sequestrados…! Qual é a “chave”? Para chegarmos a este último nível RACIONAL temos que passar pelos outros níveis funcionais do cérebro…! Se o primeiro nível do cérebro não estiver tranquilo não nos permite subir aos restantes níveis, o que significa que quando mais necessitamos de ser criativos, quando mais necessitamos de ser empáticos, quando (mais) necessitamos de ser estratégicos, o nosso cérebro começa a bloquear. E deixamos de ter acesso a essas funções avançadas que normalmente temos em estados de tranquilidade.

Igualmente, se ficarmos presos nessa emoção e não baixarmos a sua intensidade, a irrigação sanguínea não volta a fluir e a irrigar todos os níveis funcionais do nosso cérebro (subindo a escada) que nos levará ao nível, que sem dúvida nos permitirá sair desta situação de forma criativa e reforçada. Porque das crises saímos (sempre) reforçados!

cérebro trino

O que fazer?

Não conseguiremos pensar com clareza até percepcionarmos o nosso entorno como um lugar seguro e apto a cobrir as nossas necessidades. Estas percepções são influenciadas pela nossa respiração. O primeiro a fazer é levar a tua atenção ao teu corpo, ou seja às raízes dessa preocupação, porquê? Porque o 2º nível funcional do cérebro – o límbico, também está muito ligado à respiração e o último que fazemos quando estamos sob tensão, em stress ou nervosos é respirar bem. A respiração fica agitada e artificial e a falta de oxigenação intermitente leva ao sequestro emocional.

E não vale a pena disfarçar a existência da preocupação, ansiedade ou medo ocupando-se de manhã à noite com outras coisas para fazer do tipo: limpar, lavar, cozinhar, ver a série, fazer o lanche, banhos, jantar, deitar os miúdos e adormecer com eles… porque essa preocupação e ansiedades vão voltar (eu falo sobre esse tema neste artigo). Também não adianta tentares racionalizar muito as coisas porque se já o fazes e não resulta, é porque não resulta, pelo menos na totalidade porque o nível do cérebro emocional não (re)conhece a razão. Na verdade, ambas as estratégias ajudam, mas não resolvem totalmente a questão.

E por fim, também não adianta tentares seguir a linha de raciocínio do otimista da família, ser demasiado otimista aumenta a probabilidade de vires a defraudar as tuas expectativas e a levar-te de novo para a frustração. Ser realista e estabelecer objetivos claros ajuda mais neste processo (mas, sobre este tópico falarei noutro momento).

ACOLHER o sentimento de ansiedade

Um dia destes observava um dos meus gémeos que andava de trotinete (“noninete”, como ele diz) no pátio. Logo depois caiu e quando se magoou instintivamente levou a sua mãozinha ao joelhinho a dizer que lhe doía. Antes de mais nada, o que fazemos instintivamente quando nos magoamos fisicamente é em primeiro lugar, prestar atenção ao nosso corpo, e depois levar a mão ao sítio onde nos magoámos. Analogamente, estes são os primeiros passos a dar. Levar a mão onde sentimos a nossa “dor” (normalmente algures entre o pescoço e a barriga), acolhendo o sítio onde o sentimos.

Não há diferenças entre acolher a dor física e a dor emocional. Tem os mesmos mecanismos. Não é o que vem de fora, mas sim, isto que está dentro de mim, que é MEU. E respiramos fundo até nos sentirmos melhor.

Eu também instintivamente fiz isso ao joelho do meu filho, soprei enquanto o desinfetava – o atendia, no sentido de lhe aliviar o ardor. A respiração está ao nível do cérebro emocional, respirar de forma pausada e ritmada vai ajudar a baixar a intensidade do que sentimos.

Isto pode-te parecer estranho, percebo-o genuinamente, afinal de contas passamos uma vida a ensinar as crianças a falar com os outros, o que não nos ensinaram foi a falar connosco e a olhar e a tratar dos nossos sentimentos como se de uma ferida se tratasse. Nos materiais que deixo mais abaixo, para ti e para a tua família, encontrarás formas de aprofundar um pouquinho mais este exercício.

Encontra mais vezes a felicidade em ti e na tua família! ♥

#beyounique

-♥-

 

Descarrega aqui os materiais que preparei para trabalhares em ti e com os teus pequenos:

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