
A Visão de Túnel
A visão de túnel diz-nos que “É sempre a mesma coisa…”
– O meu filho é sempre a mesma coisa: Não sabe falar comigo, é muito ansioso, é muito envergonhado, não gosta de fazer amigos, isola-se, é um antissocial… Estas afirmações (e outras deste tipo) chegam-me muitas vezes, e uma das coisas que eu gosto de fazer é procurar proporcionar a ampliação da “visão de túnel” que os pais adotam.
Um Exemplo de Visão de Túnel
A título de exemplo, lembro-me de uma situação que aconteceu este Verão. Eu e aminha família estamos numa piscina “pública”, num dia muito quente e ensolarado. Enquanto observo os meus filhos na piscina frequentemente se cruzam por mim pais com filhos (o normal!). Lembro-me de estar um pai na piscina com o filho de 4 ou 5 anos. De início parecia estar simplesmente a acompanhá-lo, porque não faziam nada para além de estarem dentro da piscina, parados. Entretanto, o pai incentivou o filho a nadar… mas, o pequeno não mostrou essa vontade. O pai disse que o ensinava, mas o miúdo não quis. Numa segunda investida o pai incentivou a criança a brincar com outros meninos, entre os quais os meus, mas o miúdo não mostrou essa vontade, afastando-se.
O pai mostrou-se zangado com a situação e partilhou com pessoas próximas, num tom algo elevado, que o menino como passava o tempo todo com a mãe, dedicava o dia ao tablet, não tinha competências sociais, não sabia andar de bicicleta, nem nadar. Afirmando ainda que a criança praticamente não brincava…
Generalizações, Omissões e Distorções
Abro aqui um parêntesis: O ser humano tende a fazer generalizações, omissões e distorções.
Dificilmente alguém passa o dia inteiro no tablet. E, quando generalizamos fazemos afirmações gerais sobre aquilo que acreditamos, muito de acordo com aquilo que vemos os outros fazerem, e de acordo com os nossos valores. Neste processo ignoramos possíveis exceções, ou condições especiais.
Por outro lado, estas afirmações muito possivelmente contêm omissões. Possivelmente este pai apresentou somente algumas das informações disponíveis, desconsiderando a estrutura completa de informações de que dispõe.
E por fim, acredito que com estas afirmações este pai tenha escolhido simplificar, distorcendo o que acontece, e omitindo factos.
Estes movimentos podem ser inconscientes. Podemos viver uma vida sem perceber e avaliar o que fazemos, por que fazemos e para quê o fazemos. Mas, sobre isso, falarei noutro artigo.
É certo que estavam pessoas em volta que ouviram e, que eventualmente para alguns essa informação possa passar a ser a verdade. Acontecerá com o pai e ACIMA de tudo, com o filho. As crianças absorvem a informação de forma literal. O que ouvem entra mesmo sem filtros. Não se diz que as crianças não têm filtros?
Retomando o momento, passados uns minutos o pai foi com o filho ao bar. Reparei que passado um tempo, o menino ia de mão dada com a senhora do bar para ir buscar um gelado a 10 metros do bar. Escolheu o gelado, agradeceu e foi comê-lo. Alguém comentou com o pai que a criança afinal tinha competências sociais porque teria ido com a menina escolher o gelado, ao que o pai responde:
– “Eu sei que é meu filho, mas é muito interesseiro”…
Presos à Forma de Pensar
Até “podia ser” (as crianças que procuram felicidade vão pelo que lhes interessa, e os adultos, não?), até poderia agora voltar a referir as omissões, generalizações e distorções, mas escolho dar ênfase à existência da competência. Há ou não competência social? Teria ou não teria desenvolvida ou parcialmente desenvolvida essa competência? Fosse qual fosse a sua motivação…
“Quando a nossa mente entra em modo automático, é necessária muita flexibilidade para ultrapassarmos esse estado” * Com a visão de túnel ativa, focada na tarefa que temos em mãos (de ensinar, de ser um pai esmerado, de ajudar os filhos, etc.) nem nos damos conta e, julgamos mesmo sem clareza.
“As pessoas que estão presas a uma determinada forma de pensar ou de se comportar, não estão realmente a prestar atenção ao mundo como ele é. São insensíveis ao contexto – qualquer que seja o contexto. Em vez disso, veem o mundo tal como o organizaram, em categorias que podem ou não ter relevância para a situação com que se deparam.” *
Vale a pena refletir sobre isto.
Encontra mais vezes a felicidade na tua família! ♥
#beyounique
* Susan David (in Agilidade Emocional)